o pombo é seu maior amigo nessa cidade

acordo com o chamado do espírito santo batendo três vezes na porta do meu quarto, ou do anjo da guarda hahaiah hahaiah hahaiah, é preciso dizer seu nome várias vezes ao dia – ele é vaidoso, ou com alguma alma que eu tenha cruzado nestes trinta anos de parque de diversão. prometi ir cedo hoje à praia com um livrinho debaixo do braço e disposição pra correr na areia que é pra consertar o joelho e arejar o pulmão, e agora ele me chama ou eu me. ontem dormi com a voz do rádio dizendo que hoje é um dia especial porque aniversário da tonia carrero (93), suzana viveira (7.2), glória pires e paula toller. dessas duas ele não falou a idade, só mandou um beijo pra paula que deve ser amiga dele. mas aqui manda-se beijo mesmo sem ser amigo, então não sei se eles são amigos. o vendedor ambulante da praia é amigo, o trocador do ônibus que você pega todo dia é amigo, o porteiro que entrega a conta sem atrasar é seu amigo. e a cidade vai enchendo de fantasmas amigos que passam em velocidade absurda, são amigos-atletas. depois à noite você liga o rádio e liga pra rádio pra parabenizar a ouvinte maria do carmo por ela ter adotado o josué de 26 anos com síndrome de down, ela também torna sua amiga. “maria do carmo, mas é muito amor da sua parte”. então você dorme e sonha com uns garçons amigos seus, todos pelados, servindo café da manhã com sobremesa de brigadeiro. então você acorda com algum amigo seu batendo na sua porta três vezes, você não sabe qual deles é mas obedece, porque ele te chama e é o primeiro amigo do dia a te chamar, você coa seu café-amigo porque ele te espera com paciência trancado no pote de vidro, isso que é prova de amizade, vai até a janela com a caneca na mão pra ver se tem praia e o pombo que todo dia vem cagar na sua janela que é seu amigo você chama ele pelo nome, porque você deu um nome pra ele e ele não reclamou. o pombo é seu maior amigo nessa cidade.

Pinguin de gente


Ó o pinguin de gente


Vovó faz salgado
E o pinguin, danado!
Retumba na praça
Fazendo uma graça


Ó o quentin!
Camarãofresquin,
Joelhotorradin,
Queijossalgadin,
Frangapassarin!


Ó o pinguin de gente
Tem nenhum parente
Só a vó e o galo carijó.


Ó o pinguin de gente
Tem o pé desse tamain!
Ó o pinguin de gente
Tem a mão deeesse tamaain!


E o estômago do pinguin de gente?!


É de um tamanhão!...
Que todo salgadinho
dançava tuíste
nessa região.


Mas pinguin só olha...
a boca enche d’água…
E o pinguin só olha
co’a boca cheia d’água.


Pode comê não!
Senão falta pão
pra sua educação.
Pode comê não...


Ó o quentin!
Camarãofresquin,
Joelhotorradin,
Queijossalgadin,
Frangapassarin!


Cadê o pinguin?
Sumiu o pinguin!
Ô pinguin!
Ô pinguin!
Cadê ocê, pinguin?
Pinguiiiiiiiiiiin!!!!
in
in
in


Pinguin-furacão
Tal qual espuleta
Trocado nu’a mão
Salgado na esquerda


Entra esbaforido
e ajoelha na vó:


- Nu’ achei Zé Pereira,
o das derradeira...
Outr’ anfitrião
Mui bem assentado
Ficou do meu lado
sacando um tostão...
Mas comprou o resto não! :\


Voltá foi o jeito
Mi’a perna tremeu
Barriga roncô
C’ o sino das seis.


Corri feito louco
saltando das pedra
que queima pelano
o pé sem chinela.


Ai vó, me ajuda
Não posso mentir
pra senhora não.
Verdade é que...


Com medo fugi
Do Zé do Bastião!
O do saco preto!
De língua violeta!
Que leva criança
pro seu barracão!


Vovó-parcimônia
riu assim de lado
de ver seu menino
ali, acuado.


Tanto viu na vida
de ora doída
outrora sofrida
disse de uma vez:


- Meu filho,
pres’ tenção.
Num tem Zé
nem Bastião
barracão
Nenhum, não.
Só tem quê? Sabe o quê?
Meu amor docê.
Que é tantão, ó!
Amor de vó
é amor duas veiz.
Minhã é mió.
Leva o carijó.
Se medo te der
Bot’ ele na frente
Que mata qualquer
espírito demente.


E pelo braço
pegou o menino
deu um beijo na testa
falando baixinho


- Vai tomá seu bain
Penteia o cabelo
Rapaiz como ocê
Nunca perde o zelo.


Menino adentrou
Trancou o banheiro
Ligou o chuveiro
Fingiu que tomou.


Foi logo pro quarto
nem nada comeu
deitado na cama
logo adormeceu.


Sentindo o cheiro
da vó que abraçou
Da mãe que partiu
e do pai
que nunca viu.